Energia é o verdadeiro debate da COP30, e não as promessas climáticas dos países


O que realmente está agitando o tabuleiro é a noção diferente que países têm sobre segurança energética.

Embora a nova rodada de compromissos climáticos dos países, as NDCs, seja um ponto central deste ano, trata-se de uma discussão indireta para o resultado da COP30, em Belém, em novembro. O debate perigoso que vem tomando forma nos últimos meses é sobre energia. Há uma falsa dicotomia entre segurança energética e transição energética.

As NDCs são fundamentais para conter a crise climática. Antes do Acordo de Paris as projeções falavam em uma curva de aquecimento superior a 4°C neste século. Se os países cumprirem suas promessas (a rodada anterior de NDCs), a temperatura deve subir 2,6°C até 2100. Mas apenas 18 países submeteram seus novos compromissos e faltam 175. O deadline era fevereiro, quase ninguém cumpriu, ficou para setembro.

Como a presidência brasileira da COP30 pode influenciar esses compromissos, que devem estabelecer ações até 2035? Não pode. NDC é a sigla para Contribuições Nacionalmente Determinadas – ou seja, quem define a trajetória de emissões e as ações climáticas de um país é ele mesmo. O Brasil e a ONU podem mobilizar lideranças, colocar o tema nos diálogos de alto nível, pressionar por NDCs ambiciosas. À COP30 caberá fazer um balanço de onde o mundo estará com as novas promessas, e é só.

NDCs e COP30 são, portanto, um falso debate. O que realmente está agitando o tabuleiro é a noção diferente que países têm sobre segurança energética. Para o Reino Unido, na administração do trabalhista Keir Starmer, por exemplo, segurança energética tem tudo a ver com aumentar a participação das energias renováveis na matriz e depender menos da geopolítica dos combustíveis fósseis. Para o governo de Donald Trump, segurança energética é perfurar o máximo possível de petróleo.

“Este é um dos debates mais delicados que temos agora: a intenção de muitos atores de separar segurança energética de transição energética”, diz uma fonte. “Estes dois elos têm que ser debatidos juntos”. Não ter conseguido unir a agenda de clima com a de energia é um dos motivos de certo fracasso dos Verdes no governo
alemão. A queima de combustíveis fósseis é o que causa a crise climática. É isso que a COP30 tem que abordar.

Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2025/04/24/energia-e-o-verdadeiro-debate-da-cop30-e-nao-as-promessas-climaticas-dos-paises.ghtml

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