Nos últimos meses, tem havido um debate intenso no Brasil sobre a contratação de energia firme de termelétricas e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) nos próximos leilões de energia. Este debate foi exacerbado pelas declarações do Ministro de Minas e Energia, que caracterizou essas fontes como “jabutis” indesejáveis para o sistema energético brasileiro e que, segundo um estudo de uma consultoria, estaria gerando um custo adicional de 25 bilhões ao ano. No entanto, é fundamental analisar com cuidado o papel dessas fontes na matriz energética nacional e como podem contribuir de maneira positiva para garantir a segurança e a estabilidade do fornecimento de energia elétrica no país.
A energia firme é aquela que pode ser produzida de forma contínua e previsível, independentemente das condições climáticas ou sazonalidades. No contexto brasileiro, onde a matriz energética é predominantemente hídrica, temos uma enorme vantagem em relação à média mundial pelo baixo custo desta fonte. Com a participação cada vez maior das renováveis intermitentes (eólicas e solares) na matriz energética, energia firme é um recurso cada vez mais importante para compensar esta intermitência. Por outro lado, as grandes hidrelétricas dependem das condições meteorológicas, sendo que a introdução de outras fontes de energia firme (como termelétricas e nucleares) se torna necessária para mitigar os riscos associados à variabilidade climática, como secas prolongadas que afetam a produção hidrelétrica.
Neste aspecto, as pequenas centrais hidrelétricas são uma fonte de energia firme que merece destaque. Apesar de seu tamanho menor em comparação às grandes hidrelétricas, as PCHs são capazes de operar de maneira pulverizada, flexível e adaptável às variações de demanda, proporcionando uma contribuição significativa para a segurança energética regional e nacional. Além disso, têm um impacto ambiental relativamente reduzido se comparadas às grandes hidrelétricas, devido ao menor volume de água represada e área alagada e apresentam um custo de produção de energia (LCOE) significativamente menor do que as termelétricas, sendo uma opção muito interessante no mix nacional, principalmente para compensar a intermitência das eólicas e solares.
A contratação de energia firme de termelétricas e PCHs nos próximos leilões de energia não deve ser vista como uma medida isolada, mas sim como parte de uma estratégia integrada para mitigar os riscos associados à dependência excessiva de geração intermitente, proveniente das eólicas e solares. Ao diversificar as fontes de energia, o Brasil fortalece sua capacidade de gerar energia firme e despachável a qualquer momento, garantindo maior estabilidade no fornecimento de eletricidade para consumidores e indústrias.
Em resumo, a contratação de energia firme de termelétricas e PCHs é não apenas justificável, mas necessária para fortalecer a segurança energética do Brasil. Essas fontes não são “jabutis”, como sugerido por algumas autoridades, mas sim peças fundamentais para um sistema elétrico robusto e resiliente frente aos desafios climáticos e operacionais. É essencial que políticas públicas e decisões regulatórias incentivem a diversificação da matriz energética, promovendo a sustentabilidade e a segurança de longo prazo do setor elétrico nacional.
Artigo por Luiz Antônio Valbusa
Associado da ABRAPCH e Chief Sales Officer at SEMI Industrial Ltda.
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