92% do total de eletricidade produzida no Brasil veio de hidrelétricas, eólicas, solares e de biomassa
O Brasil atingiu recorde de geração de energia a partir de fontes renováveis em 2022. 92% de toda eletricidade no Sistema Interligado Nacional (SIN) veio de usinas hidrelétricas, eólicas, solares e de biomassa, segundo dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
Este é o maior percentual dos últimos dez anos – desde que a matriz deixou de ser praticamente hídrica – e acontece no ano seguinte da pior crise hídrica em 91 anos, em que o Brasil quase enfrentou novo racionamento por falta de água nos reservatórios. O fantasma do racionamento passou, mas o intenso acionamento de termelétricas fez com que o país herdasse uma dívida bilionária de longo prazo, por conta das ações de enfrentamento.
Superada a crise hídrica, o levantamento dos dados de 2022 mostra que dos 67,3 mil megawatts médios (MWm) produzidos no ano, quase 62 mil MWm foram gerados a partir de fontes de renováveis, reflexo direto do cenário hídrico climático mais favorável, que contribuiu para a recuperação dos reservatórios de água, e da expansão das usinas movidas pelo vento e pelo sol.
De acordo com o presidente do conselho de administração da CCEE, Rui Altieri, este é o resultado de uma matriz energética diversificada, característica que coloca o Brasil à frente de quase todos os outros países do mundo.
“Tivemos uma hidrologia favorável com chuvas nos reservatórios das hidrelétricas e a geração eólica permitiu uma boa safra dos ventos. Além disso, o Brasil expandiu a capacidade de geração renovável e tivemos a entrada em operação de novas linhas de transmissão que aumentaram a exportação da energia até os pontos de consumo. Tudo isso permitiu que o país chegasse a este patamar”, explica.
De fato, o ano de 2022 foi pujante na ampliação da matriz elétrica, com destaque para o aumento da oferta de energia de fontes renováveis, com expansão superior a 8,2 gigawatts (GW) – a segunda maior registrada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), atrás dos 9,5 GW alcançados em 2016. Já na transmissão, mais de 9,2 mil quilômetros de linhas entraram em operação.
Além do ganho ambiental, Altieri acrescenta que isso traz oportunidades em novos mercados, como o de créditos de carbono e de hidrogênio renovável. Ele avalia que o Brasil hoje está mais preparado para futuras crises.
O executivo entende que todas as fontes devem ter espaço na matriz, para melhor aproveitamento, mas os dados da Aneel apontam que eólica e solar vão puxar a expansão. Em 2023, está previsto entrar em operação 9,45 GW. Do total, 8,7 GW são só de eólica e solar.
Para o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, o Brasil busca ser exemplo para o mundo na geração de energia limpa. “Seguindo a diretriz estabelecida pelo presidente Lula, trabalhamos para, nos próximos anos, contribuir mais na preservação do planeta por meio do aproveitamento de fontes renováveis, não somente na geração de energia elétrica, mas na nossa matriz energética”, frisa.
Em termos de capacidade instalada, o diretor-geral da Aneel, Sandoval Feitosa, lembra que o Brasil sempre foi referência em energias renováveis, já que 83% da matriz elétrica é formada por hidrelétricas, eólicas, solares e térmicas movidas à biomassa.
“Nos últimos anos, vemos um protagonismo muito forte das fontes eólica e solar. Em 2022, a Aneel liberou para operação comercial 8,2 GW de novas usinas, dos quais 68% foram das duas fontes. Isso sem contar o fenômeno da micro e minigeração distribuída que em 2022 trouxe 7,3 GW de potência, quase toda ela solar.”
Neste contexto, Feitosa condiciona um horizonte positivo do setor elétrico ao fim de benefícios desnecessários. “Para o futuro, o prognóstico é o mesmo. O Brasil tem tudo para continuar sendo o país da energia segura, limpa e, se eliminarmos os subsídios, barata”.
O professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), Nivalde de Castro, acrescenta que a situação mostra que o Brasil tem o potencial que o país precisa em relação à transição energética e reforça a liderança em um campo internacional estratégico que busca a descarbonização.
“O Brasil está quase três décadas à frente da Europa e do mundo que quer chegar a 2050 com 85% ou 90% de energia elétrica renovável. Isso é um vetor de competitividade imenso e temos que nos aproveitar dessa vantagem competitiva formulando uma política de reindustrialização (…), já que a competição entre os países vai se dar pela pegada de carbono entre os produtos”, diz.
Por Valor Econômico
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2023/02/01/geracao-de-energia-eletrica-a-partir-de-fonte-renovavel-e-recorde-em-2022.ghtml
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