Passado o impacto da guerra, renováveis devem ganhar espaço como opção para reduzir a dependência energética dos países

A guerra na Ucrânia, dizem especialistas no setor de óleo e gás, mostrou o tamanho da dependência que os países europeus têm da Rússia no abastecimento de combustíveis fósseis. Se de um lado essa situação despertou a necessidade de busca por fontes alternativas de energia, por outro, deixou claro que a prioridade é garantir o abastecimento.

Para Walter De Vitto, analista de petróleo e gás da consultoria Tendências, o conflito entre Rússia e Ucrânia e as consequentes sanções atrapalharam, no curto prazo, o ritmo da transição energética. “A guerra trouxe um senso de prioridade para a garantia de suprimento energético em detrimento de aspectos ambientais”, destaca.

“Mas há, entretanto, um efeito de longo prazo derivado do conflito, relativo à segurança energética, que reforça a necessidade de diversificação das matrizes e redução da dependência externa dos países”, observa o analista. Segundo Vitto, está crescendo a percepção de que os investimentos em fontes alternativas, além de contribuir para o menor impacto ambiental, podem aumentar a independência dos países em relação à necessidade externa de energia.

E esse aspecto deve dar novo fôlego às energias alternativas e ao processo de transição energética no médio prazo, “uma vez superado o período crítico no curto prazo”, avalia. E, considerando o grande potencial eólico, solar, hídrico e de produção de biomassa, o Brasil, ressalta Vitto, certamente é foco de interesse de “petroleiras internacionais interessadas em diversificar suas atividades”.

Justamente por ver o futuro das empresas de óleo e gás passando pela diversificação rumo a fontes renováveis de energia, Vitto entende que a Petrobras erra ao abandonar as energias renováveis. A estatal brasileira, focada na exploração e produção do pré-sal, não incluiu as renováveis no seu plano estratégico para 2022-2026. “Há um claro trade-off entre resultados de curto prazo e o longo prazo. A maximização do lucro no curto não deve ocorrer em detrimento da sustentabilidade das atividades no futuro”, ressalta o analista.

Pedro Souza, líder de óleo e gás da BIP consultoria, observa que as operadoras, principalmente dos Estados Unidos e da própria Rússia – países com grandes volumes de petróleo e gás -, se aproveitam das elevações do preço do barril durante o conflito no Leste Europeu para aumentar os investimentos em combustíveis fósseis.

A guerra, ressalta Souza, mostrou o quanto os países europeus precisam de combustíveis fósseis da Rússia (cerca de 25% de petróleo e 40% do gás) e isso os levou ampliar investimentos na diversificação de suas matrizes, especialmente em fontes limpas e renováveis. No entanto, ele diz que a aceleração do uso de energias renováveis, no curto prazo, depende da maturação dos investimentos no segmento. “Ainda é difícil prever por quanto tempo os combustíveis fósseis serão a principal fonte energética global”, diz ele.

Para Souza, o que chama a atenção na atual transição energética é que não há uma única energia claramente predominante no futuro e a perda de espaço do petróleo deve variar no tempo de acordo com cada região e com os interesses geopolíticos dos países. O gás natural, diz, costuma ser visto como o combustível que estabelecerá a “ponte” entre a redução do uso do petróleo e a expansão da utilização de energias mais limpas. “As petroleiras que operam no Brasil têm gradualmente intensificado sua atuação na cadeia de gás natural nos últimos anos”, diz.

Além de apostar na diversificação do portfólio, ampliando investimentos em renováveis, o setor adota outras estratégias visando a descarbonização da economia. O sócio da consultoria KPMG, Anderson Dutra, lembra que algumas petroleiras investem em tecnologias de captura de carbono, se posicionando como mantenedoras da sustentação fóssil da matriz. Sustentação que, diz ele, ainda será importante na próxima década.

“Atualmente, por exemplo, o Brasil é referência na produção de petróleo e gás, com metade das emissões quando comparadas com outros países do mundo”, destaca o consultor. Ele lembra, porém, que o setor de energia, como um todo, contribui com 20% das emissões. “Não é o principal vilão, como muitos pensam”, afirma.

Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/publicacoes/suplementos/noticia/2022/10/04/fontes-renovaveis-podem-reduzir-dependencia-energetica.ghtml

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