Ao avaliar o grande salto das fontes intermitentes na próxima década que, segundo o PDE 2031, chegarão a 68 GW, somente na soma de potência operacional de energia eólica e GD, sem considerar a fonte solar centralizada, Ademar Cury da Silva, vice-presidente da Abrapch chama atenção para o risco de o Brasil deixar de cumprir seu compromisso com as metas de descarbonização assumidas na conferência do clima, a COP 26, de Glasgow. Isso porque, segundo ele, a presença maior dessas fontes na matriz energética brasileira poderá provocar o maior uso de térmicas causadoras do efeito estufa.
Cury lembrou que no mesmo PDE estão previstos aumentos de geração da fonte hídrica de apenas 8,5 GW, dos quais 4,3 GW de repotenciação, 4.200 MW para hidrelétricas, dos quais 3.300 MW de novas PCHs e apenas 900 MW de UHEs.
“As PCHs que têm um prazo de execução de cerca de dois anos deveriam ganhar maior participação para compensar o avanço das intermitentes que crescerão muito mais do que as fontes de energia firme. Parece lógico, portanto, que para assegurar maior segurança ao sistema, a Abrapch defende a ampliação de MW de PCHs para até 7.000 MW nos próximos 10 anos”, acrescenta.
Repotenciação
Quanto à repotenciação das hidrelétricas, Cury diz que a entidade reconhece a sua importância, mas os resultados concretos indicam mais acréscimo de potência do que de energia ao sistema. Além disso, observa, as mesmas dificuldades financeiras e comerciais que envolverão a repotenciação de usinas também afetarão as PCHs, o que implica novos regimes de comercialização e leilões e condições de financiamento.
Segundo o vice-presidente da Abrapch, para contornar o aumento do uso de térmicas necessário para compensar a intermitência, existem três alternativas: hidráulicas com reservatórios, armazenamento por baterias ou usinas hidrelétricas reversíveis. Dada a existência de grande potencial de PCHs em condições de entrar em operação até 2031 , a alternativa mais evidente seria por essas usinas, que poderiam incorporar também pequenos reservatórios para regulação diária da geração.
“O que temos hoje é um sistema que não reconhece os atributos de hidrelétricas, como tempo de reposta e armazenamento de energia, que são cruciais para um modelo que permita uma elevada participação de intermitentes”.
Demonização da fonte
Cury concorda que a falta de valoração das hidrelétricas é devida, em especial, “à demonização da fonte provocada por questões ambientais inexistentes e sem considerar os inúmeros benefícios ambientais e sociais das PCHs, inclusive criando áreas de preservação muito maiores do que os alagamentos”.
Todavia, ele cita que os benefícios de uma eventual área inundada, em comparação à carência de reservação, como observado durante a crise hídrica, supera todos os eventuais danos que possam gerar ao meio ambiente. “A crise não foi por falta de água, mas sim por falta de caixas d’água”, pontua.
Reservatórios
Depois de citar a importância dos reservatórios das usinas hídricas na recuperação do sistema após a crise hídrica, Cury lembrou que a questão relativa aos usos consuntivos da água de reservatórios de usinas deve ser um tema a ser desenvolvido pelo setor, porque envolve não somente a irrigação, mas a indústria e o próprio abastecimento humano.
“ Aliás, na última conferência da Abrapch, o representante da ANA defendeu a necessidade de um trabalho conjunto com a ANEEL, no sentido de estimular o uso compartilhado da água, compensando, de alguma forma, os custos de cada uso.”, assinalou. “A Abrapch é favorável a uma discussão sobre esse tema porque é preciso buscar uma solução para a carência de água no país e esta passa pela implantação de novos reservatórios.
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