Apesar de obstáculos no caminho, transição para economia de “carbono zero” é vantajosa, indica consultoria.
O processo de descarbonização da economia global deve custar, até 2050, aproximadamente US$ 275 trilhões, o que representaria, em média US$ 9,2 trilhões por ano, segundo um estudo da consultoria McKinsey que o Valor teve acesso e será divulgado hoje. Isso exigiria um aumento de US$ 3,5 trilhões em comparação aos valores investidos atualmente a cada ano em todo o mundo.
O custo é alto, segundo aponta o relatório, e não há garantia de que será possível evitar impactos significativos das mudanças climáticas mesmo que todos os compromissos firmados pelas nações sejam cumpridos. Contudo, existe a percepção de que a transição já se tornou inevitável e o Brasil pode ser um dos grandes beneficiados.
“A descarbonização se tornou uma realidade. Não tem um ser relevante que não está fazendo os seus planos ou que já não assumiu compromissos. E hoje já há incentivos financeiros para tal”, disse o sócio e líder de sustentabilidade da McKinsey no Brasil, Henrique Ceotto. Ele cita o incipiente mercado de precificação de carbono, mais avançado em lugares como a Califórnia, nos EUA, e na Europa, os compromissos assumidos por nações economicamente influentes como a China e o perfil dos consumidores.
“Entre as gerações mais velhas, a chance de boicotarem uma marca em razão de temas ambientais é relativamente baixa, menos de 30%. Mas, se você perguntar a mesma coisa para um millennial, esse número sobe para 75%. São as pessoas que já estão com 30 anos e durante a próxima década serão a grande máquina de consumo do mundo”, afirma Ceotto.
O relatório da McKinsey indica que é improvável que se consiga evitar que a temperatura do planeta fique controlada em apenas 1,5°C acima do período pré-industrial, mas Ceotto destaca que é plausível chegar à neutralidade do carbono até 2050 e estabilizar o clima. Países como Brasil e Índia, por exemplo, devem se dedicar à agenda inclusive por proteção, já que estarão expostos a um calor que pode impedir até mesmo a atividade produtiva a céu aberto em boa parte do ano, caso os piores cenários não sejam evitados.
O estudo, que avaliou os impactos da transição para uma economia “carbono zero” em 69 países, estima que o processo deve destruir aproximadamente 185 milhões de postos de trabalho. Produtores de combustíveis fósseis serão os mais impactados. A consultoria projeta que o uso de carvão para energia estará praticamente extinto em 2050 e os volumes de petróleo e gás diminuirão entre 55% e 70% até lá. Os custos de energia devem aumentar num primeiro momento, antes de caírem em meio à consolidação das fontes renováveis.
Por outro lado, a transição deve gerar 200 milhões de empregos globalmente, segundo o estudo, deixando um saldo positivo de 15 milhões de empregos.
Ceotto comenta que é difícil saber se o processo, que representa uma transformação na importância dos recursos naturais que movimentam o mundo, será colaborativo e pacífico ou se será competitivo e exploratório. Porém, destaca que as sinalizações, vindas principalmente das Conferências das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COPs), fazem acreditar que os líderes mundiais estão dispostos a conduzir a descarbonização com negociações cooperativas.
Nesse sentido, Brasil e países como Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia e Equador devem ser naturalmente beneficiados. “A América Latina tem um potencial gigantesco porque já temos uma participação importante de produção de energia limpa”, declarou o líder de sustentabilidade da McKinsey.
Já países mais pobres, como os da África subsaariana, e os dependentes de combustíveis fósseis estão mais expostos. Entre os países desenvolvidos, o relatório aponta que os efeitos podem ser desiguais. No Estados Unidos, por exemplo, Estados como a Califórnia se beneficiam, mas há ao menos 44 condados (“countys”) no país onde as principais atividades econômicas estão baseadas na extração e refino de combustíveis fósseis e fabricação de automóveis.
Fonte e Imagem: Valor econômico
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2022/02/01/descarbonizar-economia-sera-caro-mas-brasil-pode-se-beneficiar-diz-mckinsey.ghtml
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