Ministro prevê ganho anual de US$ 10 bi com mercado de carbono


Para Joaquim Leite, país será principal beneficiado por modelo acordado na COP26

O mercado global de créditos de carbono  deve estar em pleno funcionamento já no ano que vem e renderá ao menos US$ 10 bilhões ao ano ao país em um futuro próximo. A estimativa é do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, que concedeu entrevista exclusiva ao Valor.

Após anos de negociação, esse mercado teve as regras definidas durante a Conferência das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (COP26), que ocorreu entre 31 de outubro e 13 de novembro na cidade escocesa de Glasgow.

O mercado de carbono na COP26 foi a principal vitória do Brasil, que chegou ao evento sob críticas mundiais devido à péssima reputação do presidente Jair Bolsonaro nesta área e dos seguidos recordes no desmatamento da Amazônia.

O país, de acordo com Leite, será o grande beneficiado com o início das transações, ficando com cerca de 20% dos US$ 50 bilhões anuais que serão movimentados em nível global.

“O Brasil é o país que vai se beneficiar de um mercado global. Nenhum outro país tem a estrutura de produção industrial, de energia e agrícola e de floresta nativa que o Brasil tem”, afirmou o ministro. “Por essa característica, o Brasil deve ser um grande exportador de carbono para o mundo.”

Pelo desenho feito na COP, serão negociadas unidades de carbono verificadas e submetidas a um registro na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC).

Esses créditos estarão dentro do cálculo das metas voluntárias (NDCs) de redução de emissões de gases de efeito estufa a que cada país se propôs durante a COP. Países e setores que conseguirem uma redução além de seus objetivos poderão comercializar esses créditos com seus pares que excederem suas emissões.

Além disso, há um incipiente mercado voluntário, não contabilizado pelas NDCs, em que créditos são negociados entre setores que ficaram de fora desse mercado global.

Esse comércio, que hoje movimenta cerca de US$ 1 bilhão por ano, deve ganhar corpo em um futuro próximo, estima Leite.

“A gente entende que 97% das emissões são externas ao Brasil. Eles [outros países] não conseguirão reduzir suas emissões na velocidade necessária e, para isso, vão ter que compensar comprando crédito de algum país e de algum projeto privado”, acredita o ministro. “Assim, vão  se desenvolver projetos privados no Brasil para suprir essa demanda que já está dada, por empresas que se comprometeram a reduzir suas emissões.”

O ministro crê que o mercado voluntário de carbono se acelerará, por exemplo, conforme atividades como agricultura, cabotagem e aviação comecem a desenvolver projetos e metodologias que sejam reconhecidas e compradas por países e empresas que queiram reduzir suas emissões.

“Quando [uma empresa no exterior] compensa US$ 1 milhão por emissões, algum projeto no Brasil pode se beneficiar e receber US$ 1 milhão por gerar crédito de carbono”, diz o ministro. “Os recursos do crédito de carbono viabilizam projetos que seriam inviáveis economicamente. […] A atividade de proteger a floresta nativa garante que aquele carbono vai continuar estocado. E eu recebo por isso.”

Leite acredita que os preços seguirão uma lógica de mercado. Apenas a expectativa de dinamização do mercado fez com que a tonelada de carbono equivalente disparasse de US$ 2 para US$ 9.

A tendência, no curto prazo, é que as negociações ocorram em bloco, não individualmente.

“Então, você terá a América Latina vendendo para os países árabes. E começam essas negociações e transações. E todas elas têm que ser registradas na UNFCC”, afirmou.

Segundo Leite, a pasta já tem sido procurada por certificadoras, pessoas e empresas com ideias de projeto de carbono, na expectativa de vender no mercado global que surgirá nos próximos anos.

O ministro estima que haja atualmente no Brasil 2 milhões de hectares com projetos de carbono em floresta nativa. Pelos seus cálculos, o número chegará a 20 milhões de hectares em menos de dois anos, com potencial para até dobrar essa área.

“E dessa forma haverá a iniciativa privada contratando brigadista e guarda-florestal para cuidar do carbono estocado na floresta”, prevê o ministro. “Se você fosse diretor de sustentabilidade da BMW, qual carbono você gostaria de comprar? O de um aterro sanitário ou de uma floresta nativa na Amazônia. Então, isso tem um apelo gigantesco. Essa é a melhor solução. Acabar com a pobreza das pessoas na rica Amazônia. E com o carbono a gente vai fazer isso.”

Fonte e Imagem: Valor Econômico
https://valor.globo.com/impresso/noticia/2021/11/22/mercado-de-carbono-rendera-us-10-bi.ghtml

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