Enquanto países presentes na COP26 em Glasgow debatem sobre a manutenção ou não do texto que aponta na direção de eliminação de subsídios a combustíveis fósseis, o Brasil diz claramente que vai manter seus incentivos em nome da geração de empregos.
O ministro do meio ambiente Joaquim Leite, afirma que o o Brasil já se encontra aonde o restante do mundo quer estar dentro de 30 anos em termos de matriz energética.
“O Brasil tem incentivos claros em relação a combustíveis fósseis e deve incentivar ainda mais, porque é uma solução importantíssima”, afirmou à Estratégia ESG, parceria entre a Alter Conteúdo e a agência epbr.
Ele disse que sequer mencionaria a matriz já limpa do país. “O importante é geração de emprego”.
O esboço do acordo da COP26 faz menção ao fim dos subsídios para fósseis, mas tema deve enfrentar resistência de grandes produtores, como a Arábia Saudita.
O texto é vago, sem metas claras. “Chamamos as partes a acelerar o fim do uso de carvão e subsídios para combustíveis fósseis”, diz o novo esboço.
O ministro brasileiro defendeu uma transição responsável para um mundo com menor emissão de carbono, em que os empregos da indústria de combustíveis fósseis seriam repostos por empregos em renováveis.
“O desafio nosso é trazer nova alternativa econômica, um incentivo para a geração do emprego verde. Esse é um desafio que não é nosso, é de todas as partes,” disse.
Brasil se vê como grande exportador de óleo
A política energética brasileira mira um crescimento constante da produção de petróleo e gás natural até 2050, quando o país se comprometeu a atingir a neutralidade de emissões de carbono. Há, também, o interesse em construir novas usinas a carvão.
A estratégia do país é reduzir a pegada de carbono, contendo emissões associadas à produção e com redução da pegada de carbono por barril produzido. Conta, inclusive, com ganhos de competitividade a partir da exigência de consumidores globais por óleo menos poluente e menor intensidade de emissões.
Há um entendimento que a matriz é suficientemente limpa, há anos, graças a presença de biocombustíveis e energia de fontes limpas, como hidroelétrica, eólica e solar.
E que um país com tanta pobreza, como o Brasil, não se pode dar ao luxo de abrir mão do desenvolvimento econômico.
Pelo contrário, deve acelerar a exploração e produção de reservas de óleo e gás, justamente, para não correr o risco de ficar com reservas encalhadas por pressão da transição energética e da potencial redução da demanda global.
Durante participação na COP26, o ministro de Meio Ambiente, Bento Albuquerque garantiu que o país está bem posicionado para atingir 50% de renováveis na matriz energética até 2030.
A meta anunciada em documentos do Ministério do Meio Ambiente, que considera uma margem de 45% a 50%, aponta margem para redução de renováveis em relação ao patamar atual, de cerca de 48%, com 84% da capacidade de geração de energia elétrica a partir de fontes limpas.
Em geral, a meta foi considerada pouco ambiciosa por setores do mercado.
Segundo Bento, o Brasil tem expandido a matriz e garantindo a manutenção da “renovabilidade”, como por exemplo o crescimento da geração eólica e solar.
“Essa complementaridade, que existe entre as fontes torna a matriz cada vez mais resiliente sem a necessidade de se utilizar a energia termelétrica [na base]”, pontuou Bento Albuquerque.
Posição da União Europeia
Em contraposição, o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, defendeu a manutenção do fim de subsídios a combustíveis fósseis no documento final da COP26, após relatos de pressão de alguns países para a retirada.
“Vamos fazer o que for possível para evitar que isso ocorra,” disse, ressaltando considerar “extremamente importante” que o texto final diga “ao menos” que vai eliminar os subsídios. “Não estamos nem dizendo que vamos parar os combustíveis fósseis, estamos dizendo que vamos parar de subsidiá-los.”
No comment