Presidente do BNDES diz que questão ambiental é janela de oportunidade


Gustavo Montezano defendeu enfaticamente que executivos de empresas brasileiras comecem a fazer o “dever de casa” de entender mais sobre clima e sustentabilidade

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano, disse nesta quarta-feira, em painel do pavilhão brasileiro na Conferência do Clima das Nações Unidas (COP26), que a questão ambiental, sobretudo do ponto de vista climático, se afirma nessa edição da conferência como janela de oportunidade de “negócio, inovação e empreendedorismo” que veio para ficar, ao lado das negociações de metas climáticas entre governos e da presença da academia, que predominavam no evento.

Por isso, ele defendeu enfaticamente que executivos de empresas brasileiras comecem a fazer o “dever de casa” de entender mais sobre clima e sustentabilidade. Ele reiterou que hoje não é mais possível segregar a atividade econômica do seu impacto intangível ambiental e social.

“Falando sobre inovação, quero deixar um recado para qualquer presidente, diretor ou conselheiro de empresas brasileiras: tem que entender de clima. É preciso começar a fazer o dever de casa e entender como a sua empresa impacta no clima. Com presidentes e conselheiros entendendo de clima, o potencial que eles têm nisso, podemos conjuntamente causar um impacto na ponta com sustentabilidade que é enorme. Mas temos que aprender a falar essa língua”, disse o presidente do BNDES.

Essa língua climática a qual Montezano se refere diz, entre outras ferramentas, sobre o funcionamento do mercado voluntário e o mercado futuramente regulado de carbono, além de programas de eficiência energética, manejo sustentável e reflorestamento, que têm linhas de créditos especiais, não raro criadas pelo BNDES.

Nesse sentido, ele citou o programa FGEnergia, uma parceria do Banco com a Eletrobras anunciada na terça-feira, para dar garantia aos empréstimos tomados por pequenas e média empresas, com faturamento até R$ 300 milhões ao ano, para realizarem projetos de eficiência ou transição energética. Hoje com recursos de R$ 40 milhões, Montezano disse que o BNDES busca recursos junto a instrumentos multilaterais para oferecer até R$ 250 milhões em garantias nos próximos anos, o que facilitaria até R$ 1 bilhão em empréstimos diretos ou indiretos com o Banco.

Em duas rápidas intervenções no painel, Montezano disse que a grande questão do Brasil continua sendo a desigualdade social, segundo ele reforçada no pós-pandemia. Já o meio ambiente e sustentabilidade, afirmou, seriam na verdade a grande força do país a ser melhor aproveitada. Ele exaltou a criação de um comitê interministerial do clima pelo Ministério do Meio ambiente como uma estrutura que pode responder à imbricação entre o tema e a economia. Montezano estava acompanhado do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, o presidente do Banco dos Brics (NDB), Marcos Troyjo, e da Secretária Especial do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Martha Seillier.

“Clima e meio ambiente são partes importantes da nossa economia. Não tem como segregar trabalho de clima de investimento, está tudo entremeado. Com o plano de crescimento verde, o comitê do clima e metas claras, a gente internaliza essa potência ambiental que somos e os investidores veem isso”, disse.

Montezano sugeriu que foi grata surpresa participar pela primeira vez de uma Conferência do Clima e sentir “cheiro de negócio no ar”. “Ter essa quantidade de agentes financeiros e a quantidade de oportunidade de negócios que a gente vê fluindo aqui, é sinal de que a gente está na direção certa e o Brasil é o ‘place to be’ [lugar para estar] para receber parte desse fluxo [financeiro verde] que está por vir”, continuou.

Ele defendeu que as instituições brasileiras se preparem para esse movimento e citou exemplos como financiamentos verdes do BNDES, que somam R$ 94 bilhões nos últimos cinco anos e que serão acrescidos de R$ 120 bilhões até 2026, além da carteira de parques de concessão e manejo florestal do governo federal, que somam 6 milhões de hectares, área equivalente ao território da Croácia.

“Temos que defender o social e avançar com o ambiental, que é a nossa ponta forte. Temos conseguido fazer isso pelo time que nós temos, mas também porque os investidores perceberam que com segurança jurídica, âncora fiscal e meio ambiente economicamente viável, há ambiente propício para se fazer negócio”, disse. Em seguida, lembrou que, mais importante do que captar recursos é estruturar sua alocação, o que por si só requer investimento e tempo. Por fim, o presidente do BNDES defendeu que , na prática, a lógica da equipe econômica não é simplesmente diminuir o tamanho do Estado, como se diz, mas sim deslocar sua atuação.

“Óbvio que o governo tem papel fundamental de policy maker [promotor de políticas], fiscalização e controle e a ssim tem que ser. Mas a gente está realocando o Estado para onde ele tem de atuar. Diminuindo de um lado e aumentando no social, diminuindo de outro lado e aumentando no ambiental. É o que a gente está fazendo: reposicionando [o Estado] para que o empreendedor brasileiro, especialmente o da floresta e do clima, consiga ter um bom ambiente de negócios”, afirmou.

Fonte e Imagem: Valor Econômico
https://valor.globo.com/brasil/cop26/noticia/2021/11/10/presidente-do-bndes-diz-que-questao-ambiental-e-janela-de-oportunidade.ghtml

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