Racionamento ainda é risco e pode tirar 1,9 ponto do PIB, diz LCA


Racionamento de energia elétrica ainda é risco e pode tirar 1,9 ponto do PIB, diz LCA.
Projeção da consultoria considera corte do consumo de 20% por um período de seis meses.

O risco de racionamento em 2022 diminuiu após as chuvas de outubro, mas a possibilidade de faltar energia elétrica no ano que vem ainda é significativa. Um corte de 20% no consumo – como houve em 2001/02 – ao longo de seis meses subtrairia 1,9 ponto percentual da variação do Produto Interno Bruto (PIB) do país, segundo simulação feita por Bráulio Borges, economista sênior da LCA Consultores. Ele ainda calculou o impacto em mais dois cenários, com cortes de 5% e 10%, em que as perdas seriam de 0,5 ponto e 1 ponto percentual, respectivamente.

É mais um fator de incerteza sobre o PIB do próximo ano, que vem sendo revisado para baixo nas últimas semanas por causa dos riscos fiscais. A LCA estima crescimento de 1% para o PIB do ano que vem.

No racionamento que ocorreu entre julho de 2001 e fevereiro de 2002, houve um corte de 20% no consumo e uma frustração de três pontos percentuais no PIB, mas Borges observa que naquele momento, o país passava por uma “tempestade perfeita”: o colapso da economia da Argentina, então maior parceiro comercial do país, e forte deterioração das condições financeiras internacionais, causada pelo atentado às Torres Gêmeas, em Nova York. Num exercício feito em junho de 2001, o Banco Central estimou impacto de 1 a 2 pontos percentuais no PIB daquele ano, que acabou crescendo apenas 1,4%, de uma expectativa de 4,5%.

Voltando a 2021, as fortes chuvas do mês passado, em especial na região Centro-Sul do país, afastaram um cenário mais dramático de escassez hídrica. “Outubro trouxe uma grata surpresa, mas isso não implica que o risco de racionamento compulsório tenha sido afastado em 2022”, diz Borges, para quem esse risco caiu de 30% para 20%. “É um percentual que passa longe de preponderante, mas também passa longe de ser desprezível”, observa.

No fim do mês passado, o nível dos reservatórios das hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste, que representam em torno de 70% do armazenamento hidrelétrico do país, atingiu 18,2%, 1,5 ponto percentual a mais que em setembro, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A expectativa era de que o nível chegasse a 12,8%.

A previsão é de que as chuvas prossigam em novembro, mas o quadro ainda é ruim. Até agora em 2021 choveu 25% menos que a média de 40 anos, num país que ainda é bastante dependente da matriz hidrelétrica, responsável por cerca de 60% da geração de energia. Borges observa que um dos fatores que têm freado uma queda maior dos reservatórios é a geração eólica, que em dez anos saiu de irrisória para 13% da geração elétrica – de junho a outubro respondeu por quase 15%. E o uso intensivo das termelétricas.

Projeções da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) apontam que em novembro e dezembro, o Centro-Sul deve registrar precipitações equivalentes a 100% da média histórica (média de longo termo). De janeiro a abril de 2022 a previsão é de chuva equivalente a 70% da média. Enquanto isso, a geração termelétrica deve recuar em dezembro para um terço da média dos últimos meses. Seria prudente, diz Borges, que essas usinas continuassem a plena carga, embora haja um impacto na inflação.

“Se esse cenário da CCCE se realizar podemos ter uma oscilação favorável de bandeira tarifária no início do ano que vem. Mas, hoje, seria mais prudente manter as termelétricas a plena carga até abril de 2022. Não é garantido que vai chover o previsto, e o verão pode ser mais quente e demandar mais consumo”.

Nos três cenários simulados pelo economista, além do PIB, haveria impacto relevante no câmbio, na inflação e nos juros.

No caso do câmbio, em termos nominais, haveria uma depreciação entre 5% e 22%, dependendo do cenário, num primeiro momento, com alguma descompressão nos trimestres seguintes. Num cenário de redução de 20% no consumo, o dólar poderia chegar a R$ 6,20 no início de 2022.

Na inflação, Borges observa que o choque já está acontecendo no preço da energia por causa do sistema de bandeiras tarifárias. A depreciação cambial se adicionaria a esse processo. Segundo as simulações, num cenário de racionamento de 5%, o IGP-M teria uma alta adicional de 1,6 ponto percentual em 2022 e de 1,4 em 2023, impacto que subiria a 3,3 e 2,9 pontos num cenário de corte de 10% e a 6,7 e 3,1 pontos num corte de 20%. Neste último cenário, o IGP-M voltaria a uma alta de dois dígitos no ano.

No IPCA, um racionamento de 5% teria impacto de 0,4 ponto em 2022 e 0,2 ponto em 2023. Um corte de 10% resultaria num IPCA 0,8 e 0,5 ponto maior nos dois próximos anos e um corte de 20% daria em uma inflação oficial 1,6 e 0,6 ponto maior em 2022 e 2023, respectivamente. O impacto não “vazaria” para 2024 porque o Banco Central elevaria os juros para colocar a inflação na meta de 3%, diz Borges.

Na simulação do economista, um corte de 5% colocaria a Selic 0,25 ponto percentual acima do que se projeta no cenário base. A taxa ficaria mais alta até o fim de 2023. No corte de 10%, haveria uma Selic 0,5 ponto maior e acima do cenário base até o primeiro trimestre de 2024. E no corte de 20%, a Selic adicional seria de 1,75 ponto e ficaria permanentemente mais alta até o meio de 2024.

Fonte e Imagem: Valor Econômico
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/11/08/racionamento-ainda-e-risco-e-pode-tirar-19-ponto-do-pib-diz-lca.ghtml

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